Volume 14 Number 2
Aproximações ao cenário das humanidades digitais no Brasil
Approaches to the Digital Humanities Scene in Brazil
Abstract
As Humanidades Digitais incorporam os métodos e as questões legadas pelas ciências humanas e sociais, ao mesmo tempo em que mobilizam as ferramentas e perspectivas singulares abertas pela tecnologia digital. A partir dessa concepção geral, o artigo apresenta uma visão panorâmica de algumas das iniciativas de HDs no Brasil, apontando para o seu potencial de desenvolvimento. Além disso, o artigo destaca certos princípios norteadores para a área, e relaciona importantes desafios e oportunidades para o estabelecimento do campo no país. Como suporte para a análise, o artigo relata a experiência do I Congresso Internacional em Humanidades Digitais, realizado no Rio de Janeiro, em abril de 2018.
1. Introdução
2. Humanidades Digitais: princípios, oportunidades e desafios
3. A afirmação das humanidades digitais na agenda científica
4. A experiência do HDRio2018
- Eixo 1 – Pensamentos Contemporâneos e Mundo Digital: a proposta deste eixo foi o de debater as implicações estéticas, políticas e ontológicas na contemporaneidade com o advento das tecnologias digitais. Nesta perspectiva, os trabalhos aprovados puderam ser distribuídos em sessões que incluíram discussões sobre hackers, ciborgues e games digitais; sobre sexualidade em tempos de relacionamentos virtuais; sobre comportamento e novas formas de socialização; sobre as subjetividades e o lugar do pós-humano neste ecossistema; séries e cinema focando principalmente a ficção na contemporaneidade; e finalmente a questão do ativismo e dos movimentos sociais nas redes.
- Eixo 2 – Tecnologia, Cultura, Política e Sociedade: a chamada para este eixo privilegiou tópicos capazes de suscitar discussões relacionadas às implicações mútuas entre a tecnologia e os espaços culturais, políticos e sociais na era digital. Assim, em seu conjunto, foram aprovadas propostas que versaram sobre temas como redes sociais, ciberativismo, ciberdemocracia, inteligência artificial, recursos pedagógicos digitais e políticas públicas, além de ética, privacidade, vigilância e controle de dados. Dada a sua diversificação e também a sua atualidade midiática, em tempos de intensa discussão sobre fake news e atuação em redes sociais como espaço de ações coletivas, esse foi o que mais recebeu submissões.
- Eixo 3 – Acervos Digitais e Memória Social: com a inclusão cada vez maior de objetos digitais em coleções localizadas nas instituições de memória e documentação, questões sobre políticas, metodologias e ferramentas que apoiem a gestão, preservação e difusão destes conteúdos tornaram-se centrais. Grande parte dos trabalhos selecionados para este eixo trouxe as experiências vividas pelos diversos acervos brasileiros quanto a estas questões, visando compartilhar com o público presente tanto os resultados de suas práticas e pesquisas, quanto as dificuldades e desafios enfrentados no âmbito da curadoria digital. Durante o evento, foi possível verificar que essa troca de experiências trouxe como resultado o fortalecimento da rede de pesquisadores e profissionais que atuam na área, permitindo a criação de vínculos colaborativos e de parcerias institucionais.
- Eixo 4 – Representação do Conhecimento, Semântica e Dados Abertos: a proposta deste eixo é fruto da percepção de que com a emergência da web e a profusão de conteúdos ali disponibilizados, tornou-se necessário e urgente pensar as formas de acesso e reutilização desses conteúdos em larga escala para a educação, cultura, ciência e cidadania. Isso implica em novas formas de representação e padronização da informação, de modo que haja uma semântica clara e inequívoca, inteligível por máquinas, além de interoperabilidade entre os recursos digitais. Os trabalhos apresentados neste eixo trouxeram contribuições sobre metadados, linked open data e estudos cientométricos.
- Eixo 5 – Grandes acervos textuais nas Humanidades Digitais: neste eixo, a ênfase esteve em estudos e aplicações que tivessem como objeto grandes massas de dados textuais. Podem-se destacar aqui trabalhos relacionados a análises lexicais e a identificação de fenômenos particulares da língua nos corpora, modelagem de tópicos e estratégias de aprendizagem de máquina. Em especial, discutiu-se como as abordagens da leitura à distância (distant reading) empregadas na literatura aumentam as metodologias interpretativas tradicionais, empregando métodos computacionais para gerar insights sobre grandes corpora ou para isolar padrões linguísticos ou estruturais que não são visíveis no ato da leitura atenta.
- Eixo 6 – Artes e Expressões Digitais: para os coordenadores deste eixo, as artes de meios eletrônicas, juntamente com os estudos em humanidades digitais, das ciências e das tecnologias, se tornaram cada vez mais relevantes para a análise da sociedade e da vida na contemporaneidade. Denominada de midiarte, área híbrida e transdisciplinar, ela incluiu desde codificação ou digitalização de imagens e sons até o desenvolvimento de softwares e hardwares criados em função da poética de um trabalho específico. Os destaques deste eixo foram os trabalhos sobre performances, práticas e interatividade nos campos do cinema, da música e da arte digital, com reflexões importantes sobre a criação de imaginários e os processos de subjetivação contemporâneos.
- Eixo 7 – Visualização, Sonificação e Análise de Redes: as geotecnologias, em geral, e os sistemas de informação geográfica (SIGs), em particular, vêm se incorporando crescentemente ao cotidiano do pesquisador em humanidades. Metodologias de visualização e análise de dados, como gráficos dinâmicos ou análise de redes são cada vez mais procurados, dentro e fora da academia. Tais foram os temas centrais deste eixo. Os trabalhos selecionados foram distribuídos em quatro grupos de apresentação, buscando uma melhor sinergia entre eles: redes sociais e visualizações; implicações teóricas e metodológicas no uso de tecnologia em estudos históricos; o uso de geotecnologias em história colonial; e o uso de geotecnologias em história urbana. A maior parte das propostas recebidas se conectava a experiências de georreferenciamento, com destaque para os projetos que privilegiam o aspecto aberto, colaborativo e integrador, tanto no que se refere aos sistemas e plataformas adotados, quanto aos dados gerados e publicados.
- Eixo 8 – Humanidades Digitais e Realidade Brasileira: este eixo buscou refletir e debater o estado da arte das Humanidades Digitais no Brasil através de trabalhos de pesquisa que se debruçaram sobre questões como a formação e produção acadêmica em Humanidades Digitais (HDs) no país e iniciativas conexas como Antropologia Digital, História Digital, História Pública e Sociologia Pública. As apresentações mostraram-se bastante diversificadas, abordando desde iniciativas de desenvolvimento de plataformas, linguagens e arquiteturas digitais, passando pelo processo de construção de narrativas em redes e mídias sociais, até o debate histórico e conceitual das próprias Humanidades Digitais, enquanto um campo ainda em amadurecimento.
5. Considerações Finais
Abstract
Digital Humanities incorporate the methods and issues inherited by the human and social sciences, while mobilizing the tools and perspectives opened by digital technology. From this general conception, the paper presents a panoramic glance of some of the Digital Humanities initiatives in Brazil, pointing to their potential for development. It highlights certain guiding principles for the area, in addition to relating important challenges and opportunities for the establishment of the field in the country. In support of the analysis, the article reports on the experience of the I International Congress on Digital HumanitiesI, held in Rio de Janeiro, in April 2018.